JEFTÉ REALMENTE SACRIFICOU SUA FILHA OU NÃO?
Essa dúvida quase que desnecessária que permeiam no meio teológico. Pois não se trata de riscos de influência a cerca de salvação. Mas o que acontece é que muitos acreditam que Jefté, um forte juiz de Israel sacrificou sua filha em um holocausto, melhor explicando, matou-a, esquartejou-a e a queimou em um altar no qual possivelmente ofereceu ao Senhor, que possivelmente teria aceitado. Como lição de moral para essa interpetação do texto, é a de que, não podemos fazer votos precipitados, pois você não pode voltar a trás de um voto. Mas Deus, volta atrás nos seus princípios? Ele seria capaz de descumprir o que disse, voltar atrás no que instituiu, para fazer valer um acordo de um voto, mesmo que precipitado? Isso aconteceu mesmo?
Creio eu que não, por vários motivos. A interpretação do texto de Juizes 11.29-40 é comum em muitos lugares e aceitável sem estudo e cuidado com o todo da Bíblia sagrada, que de fato Deus consentiu com o voto de Jefté em aceitar um sacrifício humano, coisa que ele jamais aceitaria. Podemos ver o próprio Deus falando acerca de sacrifícios humanos em várias passagens da Bíblia como em Deuteronômio 12.31 / 18.10 e Jeremias 7.31 além de muitas outras passagens. Os que defendem o sacrifício da moça, não atentam para vários quesitos interessantes como:
1- Jefté não seria um juiz a toa, desconhecedor dos preceitos divinos, das leis, dos princípios básicos de Deus, para fazer um voto que levasse a jogo algo irrevogável de Deus, a sua Palavra.
2 - Deus jamais voltaria atrás em seus princípios eternos, mesmo que fosse para uma boa causa, como aconteceu no caso de Uzá; que por boa intenção tocou na Arca da Aliança, e mesmo assim Deus cumpriu o que disse a respeito de que ninguém pudesse tocar na arca.
3 - O equívoco todo vem do verso ingênuo de 31 que diz: "qualquer que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, quando eu, vitorioso, voltar dos amonitas, esse será do Senhor; eu o oferecerei em holocausto". Prestem bem a atenção, ele ofereceu ao Senhor uma pessoa, e essa pessoa só seria do Senhor quando ele oferecesse ela em um holocausto; ou seja, a cerimônia, podemos dizer assim, da consagração seria dada com um holocausto comum, de um cordeirinho. A partir do holocausto, a pessoa já seria consagrada ao Senhor! Assim como aconteceu com Ana, ela, quando foi cumprir o voto, fez um sacrifício especial, além do que se faziam anualmente.
4 - Jefté só tinha uma única filha (v 34), nem filhos ele tinha, só a moça. A maior tristeza que consumiu ele quando ele chegou (v35) não foi porque ela iria morrer, mas justamente porque ela não teria sua descendência adiante, a sua posteridade cessaria porque ela nem podia mais conhecer homem algum por causa do voto de castidade. Foi esse o maior motivo da tristeza do seu pai. E saiba que naquela época a mulher que não pudesse ter filhos, era uma desgraça terrível. Ainda mais pra um pai que tinha apenas uma única filha, pior de tudo, nem filhos varões, nada, só ela. Essa foi a tristeza dele.
5 - A virgindade, e não a morte, foi o maior motivo dela pedir ao pai a ir, por dois meses chorar com suas amigas nos montes. É tão tal, que isso se repete duas vezes nos versos 37 e 38. Fala claramente que a preocupação não era pela morte e sim porque ela jamais casaria.
6 - A Nova Versão Internacional, que é uma ótima tradução, já nos deixa mais claro a respeito dos versos cruciais que nos dão mais evidências de que a moça jamais foi morta e queimada pelo pai. Vejam:
"aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto". (verso 31)
"E prosseguiu: “Mas conceda-me dois meses para vagar pelas colinas e chorar com as minhas amigas, porque jamais me casarei. “Vá!”, disse ele. E deixou que ela fosse por dois meses. Ela e suas amigas foram para as colinas e choraram porque ela jamais se casaria. Passados os dois meses, ela voltou a seu pai, e ele fez com ela o que tinha prometido no voto. Assim, ela nunca deixou de ser virgem". (Versos 37-39) NOVA VERSÃO INTERNACIONAL.
É muito claro não enxergar que que houve mesmo um sacrifício humano; se assim fosse, a Bíblia não teria nenhum problema em deixar isso claro e evidente, mas realmente ela foi devotada ser virgem em toda sua vida. Jefté é mencionado na galeria dos grandes heróis da fé em Hebreus 11; seria muito intrigante Jefté estar na galeria da fé, sendo que ele poderia fazer uma barbaridade dessas, ainda pondo em jogo o princípio irrevogável de Deus.
7 - Mas as mulheres faziam algo no serviço e na ministração nos tempos antigos da Bíblia? Como que uma mulher foi cedida ao Senhor, se somente os homens, sacerdotes podiam fazer o serviços do templo, pois não é diferente com Ana que ofereceu Samuel pois ele ministrava perante o Senhor. Mas e a filha de Jefté? A Bíblia nos mostra que mulheres também ministravam perante o Senhor na tenda da congregação, e elas eram úteis, assim como a filha de Jefté foi ao Senhor, conforme Êxodo 38.8.
Pra mim, essa é a interpretação mais aceitável da história de fé de Jefté e sua filha, do que aceitar algo que é absurdo, põe em jogo os princípios irrevogáveis de Deus e sem um profundo cuidado ao ler e ao buscar o que realmente diz e não o que parece dizer. Sei que muitos ainda defendem a ideia de que houve o sacrifício, mas há provas bíblicas e suficiente de que tal coisa não ocorreu.
Na Paz em Cristo a Todos.
Neymarques Feitosa.
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